Tenho notado no FB uma movimentação massiva com o intuito colher assinaturas para o movimento " não foi acidente". Basicamente, eles pregam a pena de cadeia para quem beber e dirigir, alegando que hoje em dia que bebe, dirige e mata alguém, simplesmente paga fiança e está livre!
Eu vou fazer diferente hoje para não esquecer de nenhum motivo pelo qual eu não assinarei esta petição e por que eu a considero absurda.
1- Pressão pública e a (falta) de informação midiática.
Numa das primeiras aulas de Constitucional na Faculdade eu me lembro do meu professor nos dizendo que o legislador não deve ceder a pressão pública na hora de legislar. Ok, pode levar em consideração quando for elaborar o texto, mas, criar uma lei às pressas para simplesmente satisfazer a vontade popular, certamente não é a forma mais inteligente de resolver os problemas da nossa Sociedade.
Eu tenho notado essa movimentação depois de que a mídia começou a falar mais e mais dos acidentes que ocorrem no trânsito, sempre citando " e pagou fiança e foi liberado" ..Simples assim, como se o pagamento da fiança se resumisse apenas a isso.
2- O princípio do Direito Penal - Intervenção mínima
De todos os princípios que eu estudei no Direito Penal, o da intervenção mínima para mim sempre foi o mais sensato, basicamente ele preceitua que o Estado so deve intervir pelo Direito Penal quando os outros ramos do Direito não conseguirem PREVENIR a conduta ilícita.
Veja bem, o Direito Penal deve ser usado em último caso e não metralhado a todo custo como se isso fosse resolver todos os nossos problemas. Uma das frases que mais me marcaram durante a faculdade era " não puna a consequência, evite o problema desde o início", repito isso para mim em quase todos os ramos da vida, como se fosse um mantra.
Dirigir e beber não é questão apenas de segurança pública, para mim não se resolve com cadeia e muito menos se previne. O costume de se dirigir bebado é cultural. É falta de educação, é de limite familiar. Vejo cada vez mais as famílias "terceirizando" as suas funções para a escola e para o governo como se estes tivessem obrigação de ensinar aos seus filhos aquilo que os pais estão cada vez mais incapacitados de fazer no seio dos lares brasileiros.
Se, a cadeia fosse a solução para alguma coisa, o nível de violência não estaria subindo vertiginosamente e nos assombrando cada vez mais.
Quem dirige e bebe pode ser sem noção, sem responsabilidade, sem limites, e qualquer outra coisa, mas, não necessariamente bandido. Deixá-lo mofando na prisão seja lá por quanto tempo for, não irá resolver o problema, mas, com certeza criaremos mais um monte. Primeiro, que nós não temos penitenciárias suficientes para abrigar todas essas pessoas. Engraçado que todo mundo pede por educação, mas ficam criando movimentos para no final das contas ampliarmos as prisões. Segundo, que manter um preso é muito mais caro do que educá-lo e, depois que ele matar o seu familiar, nada, muito menos a prisão irá reverter a situação. Não seria muito melhor investirmos em conscientização para que ninguem morra?
3- Lei Seca - Muito barulho, pouco resultado.
Alguem aqui lembra de quando a Lei Seca entrou em vigor? O barulho que foi, o anúncio de que seria a solução de nossos problemas, que as pessoas teriam medo de beber e dirigir e bla bla bla e, bem os números não refletem nada disso.
Dados revelam que morrem no Brasil, anualmente, de 50 mil a 60 mil pessoas vítimas de acidentes de trânsito. Em média, metade dos acidentes é causada por motoristas sob a influência de álcool. Outra 180 mil pessoas não morrem, mas ficam com sequelas irreversíveis por contaa da violência no trânsito. De acordo com números do Sistema de Informação de Mortalidade do Ministério da Saúde, em 2008 morreram 38.273 pessoas em acidentes de trânsito. Em 2009, com a regra em vigor, as mortes caíram para 37.549. Em 2010 (passada a euforia), aumentaram de novo, para 40 mil. O número de apreensões pode até ter aumentado, mas, o número de acidentes não diminuiu, sabem por que? Por que quem bebe e dirige tá pouco se lixando para a Lei, e continuam agindo da mesma forma, alguns dão o azar de pegar um comando policial no caminho, outros não, simples assim!
Depois que a euforia passou, parece que tudo voltou ao normal.
4- A verdade sobre a fiança.
Se você ler " pagou fiança e ficou livre" e acredita, sinto informar que você está se enganando. Pagar fiança NÃO É A MESMA COISA de ficar impune. Pagar fiança significa liberdade provisória, responder o processo em liberdade assegurado pelo nossa Constituição Federal A regra é que seja concedida pelo juiz e excepcionalmente pelo delegado de polícia. O Código de Processo Penal estabelece as hipóteses em que a concessão pode ser pelo delegado que formalizou a prisão em flagrante.
O atual Código de Processo Penal (CPP), em seu art.
323, estabelece as hipóteses em que não se permite a concessão de
fiança. Dentre elas, nos crimes punidos com reclusão em que a pena
mínima cominada for superior a 2 (dois) anos; nos crimes dolosos punidos
com pena privativa de liberdade, se o réu já tiver sido condenado por
outro crime doloso, em sentença transitada em julgado; nos crimes
punidos com reclusão, que provoquem clamor público.
Em
resumo, a Justiça entende que com a fiança paga, o réu ficará na
comarca em que ocorreu o ato criminal,atendendo a todos os chamados do
Juízo e sem atrapalhar as negociações, no final de tudo ocorrerá um
julgamento, uma sentença seja de condenação ou absolvição, então minha
gente, se você escutar que ele pagou fiança, não fiquem achando que ele
saiu correndo em direção a luz da liberdade provisória, por que isso não
ocorreu.
O que acontece é que ou o Juíz ou a
autoriadade policial não entendeu que o réu ofereça algum tipo de
perigo a sociedade, o que de fato, para mim, é bem verdade. Ele tem
plenas condições de seguir a vida, trabalhar, ficar com a família sem
oferecer risco nenhum, mas, sem se furtar de seu compromisso com a
justiça.
5 - A minha solução.
O
tema é delicado, mas eu o encaro muito mais como um problema de saúde
pública do que de segurança. Acredito que campanhas de conscientização e
o retorno da responsabilidade de educação para o seio familiar são
muito mais eficazes do que penas de prisão no caso de volante e bebida.
Temos
que parar com essa mania de querer criar leis para cada problema que
aparece. Primeiro por que o nosso sistema legislativo já está
insustentável, uma lei contradizendo a outra, um principio em cima do
outro e tudo sempre meio nebuloso o que causa muito mais morosidade ao
nosso judiciário. Ao invés de resolvermos um problema, nos criamos uma
teia de aranha com bem uns 5 problemas novos.
Para mim, no caso de
morte no trânsito já existe uma tipificação que é o homicídio.
Analisemos as circunstancias e encaixemos no culposo ou doloso e assim
em diante, sem a necessidade de novos dispositivos legais. Nesse ponto
nós devíamos nos inspirar nos nossos amigos norte americanos que possuem
um conjunto de leis muito mais enxuto e ágil do que o nosso. Tem mais um monte de coisas que eu achei absurdo no próprio texto da petição do movimento, mas, basicamente tudo o que eu penso se resume ao que está escrito aqui ( levando-se em consideração que escrevi isso de madrugada e com bastante sono só para nao deixar as ideias fugirem).
beijos