quarta-feira, 1 de abril de 2015

O manifesto da advogada tatuada!

E estamos em tempos de discutir preconceito. A novela da Globo fez com que discutíssemos sobre homossexualidade na semana passada. Várias notícias tristes, trazem a tona a discussão a respeito do racismo, em março o tema é sobre machismo e por aí vai.


Acho muito legal esse bate papo desvairado que as redes sociais trazem até nós, embora, muitas das vezes os comentários virem campos de guerra, argumentos e respeito somem e a gente só vê agressão. Mas tudo bem, o importante é que pelo menos estamos falando sobre os temas espinhosos.

Mas hoje, eu não sentei para falar sobre os LGBT´s, nem sobre os negros, nem sobre as mulheres. Hoje eu sentei aqui para falar de um dos preconceitos mais democráticos de todos. Ele atinge a qualquer um, seja preto, branco ou amarelo, seja rico ou pobre, seja homem ou mulher: TATUAGEM.

Eu, que nunca tive nada contra os tatuados, sempre achei bonito nos outros, mas não achava que faria. Não tinha nada em mente que eu quisesse passar a minha vida inteira junto, e sempre achei que na minha profissão (sou advogada) não ia pegar bem. 
Um belo dia, por impulso fiz a minha primeira. Minúscula, no dedo anelar da mão esquerda um símbolo do infinito representando as pessoas que amo e que são eternas.Colocava um anel por cima e ok. Dizem que vicia e você não acredita, até fazer a primeira. Aí meses depois, estava eu novamente no studio fazendo mais uma, pequena porém ousada no ombro. Um sorriso e talvez o que mais me caracterize. Essa, principalmente no verão é mais difícil de esconder e eu me peguei diversas vezes, trocando de roupa por que ia numa audiência, atender um cliente ou em alguma reunião. Semana passada eu fiz mais uma, no outro ombro. E já agendei para fazer mais três.

Acho super bonito as tatuagens nos braços, pequenas, delicadas, femininas. Mas não tinha coragem de fazer achando que isso poderia me prejudicar no meu escritório. Você nunca sabe exatamente quem vai atender, quais são suas crenças e seus preconceitos, logo é melhor não bater de frente. Mas, diante de tanta discussão a respeito de preconceito e respeito, achei tudo isso meio contraditório, não!? Tudo bem que preconceito, seja lá de qual natureza for, é algo sempre sem sentido, mas às vezes eu me pego pensando que tal postura em pleno 2015 é tão fora de moda, que resolvi deixar de lado.

Tudo bem que você não goste e tem todo o direito. Assim como eu não gosto daqueles piercings no meio do nariz, mas julgar alguém por um estilo é algo tão primitivo. Colocar na caixinha dos vagabundos, preguiçosos e bandidos por que a pessoa fez um coração no ombro é tão surreal. Desclassificar alguém de um concurso público por que tem tatuagem? Deixar de me contratar por que eu tenho uns pássaros no braço? Gente, como assim?

E tudo isso não passa de uma construção social. Ter as orelhas furadas logo na maternidade tudo bem. Sair por aí com um par de brincos escandalosos, rasgando as orelhas e nada demais, mas ter um piercing no nariz já é algo agressivo. São situações tão sem sentido que eu resolvi deixar para lá. Sempre que eu vejo um gay no armário eu sinto pena dele. Acho que deve ser horrível viver se privando do que quer por conta do que os outros vão pensar. Sempre que vejo sendo uma mulher menosprezada simplesmente por ser mulher, sinto um ódio tão grande desse machismo que ainda permeia nossas relações que tenho vontade de fazer coisas impublicáveis. Sempre que qualquer notícia de qualquer tipo de preconceito vem a tona, eu me pergunto onde estamos e quando vamos evoluir, acabei transportando tal pensamento para a questão das tatoos. 

Deixar de marcar o meu corpo com algo que eu gosto e da forma como eu gosto só por que algumas pessoas ainda vão pensar coisas ruins de mim ou talvez não me contratem é um retrocesso. Eu não quero causar embaraços para ninguém, nem tampouco chocar a sociedade, só queremos aquele direito constitucional de não ser pré julgado em decorrência de raça, cor, credo, condição sexual ou tatuagens. Ou ainda mais, eu só quero dispor livremente do meu corpo e isso não é nem de longe um motivo para ofender o outro. Deixe a sua ferrari sem adesivo, tudo bem eu não ligo. Mas eu deixe eu desenhar a minha por inteiro, por que é assim que eu gosto e quem é você para me julgar?

E sim, seria mais fácil que eu usasse sempre camisas onde os meus braços fiquem escondidos, inclusive no Verão que faz em nosso País. Mas o ponto é justamente esse: Ate quando, nós, que não estamos fazendo NADA DE ERRADO vamos ficar procurando subterfúrgios para fazer uso de um direito? A sociedade fica procurando maneiras de evitar o confronto, maneiras de ficar no armário sem a menor disposição para aceitar as diferenças. Quer ser gay? Ok, desde que não beije em público. Quer ser mulher e ser respeitada? Use apenas roupas longas, caso contrário se você for estuprada a culpa será sua. Quer ser respeitado? Siga o manual de conduta.

 As nossas relações deviam se pautar única e exclusivamente pelo respeito. Respeitar as escolhas dos outros parece ser a atitude mais chocante da atualidade, parece ser mais agressivo do que ser minoria, tatuado e com piercing.
E eu acho que, diante de tantos protestos e de tantos pedidos por um Brasil/mundo melhor a gente podia começar praticando essa atitude tão chocante, tão moderna e tão absurda que é respeitar a escolha do vizinho. Sem julgar, sem colocar em nenhuma caixinha, sem menosprezar. Apenas respeitar e viver em harmonia com a certeza de que ninguém é melhor do que ninguém e que no final, todos iremos para o mesmo lugar. Simples assim.