quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

E quem disse que se eu gostar do azul, não posso gostar do rosa, amarelo,verde e vermelho?

Eu não sei o que é ter foco. Sempre fui daquelas que estudava vendo televisão. Que falava no telefone, enquanto lia e ouvia música. Que tem a maior dificuldade de prestar atenção em qualquer coisa que seja, desde a aula mais interessante de todas, passando por palestras e apresentações. Até um amigo se me contar uma história longa, é provável que me perca.
 Para que eu me concentre minimamente, preciso estar fazendo algo em conjunto, tipo rabiscando, escrevendo ou, atualizando as minhas finanças.

Passei os meus vinte e cinco anos angustiada com essa minha incapacidade. Parecia que eu não conseguia gostar de nada que realmente prendesse a minha atenção e acabei deixando de lado cursos, palestras e congressos. Quando eu me formei, depois de cinco longos anos tendo que assistir longas aulas, eu achava que finalmente ia encontrar algo que não me perdesse. Entrei na pós graduação, entediei novamente. Fiz alguns cursos e os meus cadernos de rabiscos sempre presentes. Nem mesmo a profissão que eu havia escolhido era suficiente para prender toda a minha atenção.

Cheguei a trabalhar com direito, corretagem, turismo e eventos tudo de uma vez só e me entendia muito bem naquele caos. Parece que a melhor parte de mim é estimulada pela bagunça, pela agenda lotada, pela falta de tempo de respirar. E mesmo diante de tanta coisa, eu ainda arrumava tempo para viajar, sair com os amigos, fazer a pós graduação entediante e ficar sem fazer nada. Sabe-se lá da onde eu arrumava tanto tempo, mas para mim a melhor forma de gerenciar as minhas tarefas é tendo tanta coisa para fazer que não posso me dar ao luxo de procrastinar.

Durante essa jornada louca ouvi muitas vezes que eu não tinha foco. Quer dizer, ouvi a minha vida inteira que eu não tinha foco e, realmente não tinha. No entanto, só depois de muita análise é que eu percebi que aquilo não necessariamente precisava ser um problema, era uma característica minha, uma qualidade, a melhor forma que eu encontrei para tocar a vida e ela era diferente, mas longe de ser errada.

Comecei a refletir sobre o meu modo de agir e o modo de agir da maioria das pessoas "focadas" que encontro por aí.
 Para mim, uma das melhores coisas que gosto em ser "desfocada" é que eu não tenho limites. Enxergo oportunidades em quase tudo que vejo e não coloco barreiras nem no aprendizado nem na prática de nenhum deles. A maioria das pessoas focadas que encontro repetem um mantra incessantemente "é muito difícil" ou " estou muito ocupada para lidar com isto". Eu não. Eu sempre tenho tempo para o novo, pois é isso que me impulsiona, que me fornece energia para continuar o que faço e para seguir em frente. 

O fato de ser sem foco me faz apreciar belezas em tudo o que vejo, ao invés de estar preocupada firmemente apenas com uma coisa. E, se eu achar um caminho mais simples do que o que eu traço agora, certamente irei alterar a minha rota, por que também não tenho muito problema com o fracasso e nem com a mudança de planos, estou mais preocupada com as perguntas do que com as respostas. 

Tenho a impressão de que passarei a vida inteira assim, na busca pelo novo, pelo brilho nos olhos e odiando a acomodação. Talvez a única acomodação que eu goste seja o amor, de resto prefiro essa vida sem lente e sem óculos de grau. Desfocada mesmo. Para uns, uma perfeita perdedora, para mim, uma constante vencedora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário